Retirada de vacinação contra aftosa preocupa setor pecuário
Os planos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) de ampliar as áreas do Brasil com o status de livre de febre aftosa sem vacinação tem preocupado o setor pecuário. A previsão do Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (Pnefa) é de que em maio Acre e Rondônia já deixem de vacinar. Em novembro, Amazonas e parte do Mato Grosso do Sul serão os próximos encerrar a vacinação. Otimista com as perspectivas de recuperação do mercado de carne este ano, o gerente da Casa Branca agropastoril, Heitor Pinheiro Machado aponta a pressão de alguns Estados para o fim da vacinação como sua única preocupação em relação ao futuro da pecuária brasileira. “Acho temerário e muito precoce. O Brasil é muito grande, tem fronteiras muito perigosas, acho uma temeridade acabar com a vacinação de aftosa”, ressaltou o pecuarista ao prever crescimento de 10% a 15% nas vendas de sêmen nos próximos três anos caso não haja nenhum percalço nas vendas de carne no mercado interno e externo. Machado refere-se, entre outras coisas, à antecipação da erradicação da vacina no Paraná, Estado que tem se preparado há anos para encerrar a imunização do seu rebanho de olho no mercado internacional de suínos. Departamento de Saúde Animal (DSA) do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento aprovou o pedido do Estado, cujo cronograma do Pnefa apontava o fim da vacinação em 2021, para antecipar a medida para maio deste ano. Com isso, o Mapa deve determinar restrições à entrada de animais de outros estados no Paraná a partir de outubro deste ano.
Momento errado
A autorização, contudo, é vista com maus olhos pelo Sindan (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal). Emílio Salani, vice-presidente executivo da entidade, explica que a divisão do cronograma de erradicação da vacinação em blocos, iniciando por Acre e Rondônia, se deve a razões epidemiológicas, dado que mais de 50% do comércio de animais desses Estados se dá entre eles, permitindo maior controle no caso de surgimento de algum foco da doença. “O Sindan não é nunca será contra o fim da vacinação, mas estamos preocupados se esse o momento para isso”, explica Salani. Em suas considerações enviadas ao Mapa, o Sindan propôs que o fim da vacinação no Brasil fosse adiado para 2021 considerando, entre outras coisas, o contexto de crise econômica e financeira no país. A entidade já informou que não manterá nenhum banco de antígenos, medida prevista no Pnefa mas sem especificar responsáveis. “O Brasil tem que estar preparado para isso e até o momento não sabemos em que pé está o banco de vacinas que Brasil está planejando”, observou o vice-presidente do Sindan. Salani destaca ainda os riscos envolvidos no passo que o país dará a partir deste ano. Segundo seus cálculos, mais de 200 mil profissionais podem ser dispensados de suas atividades caso a vacina deixe de ser fabricada em território nacional. “Corremos o risco de perder a maior expertise em vacina contra aftosa do planeta”, lamenta. O segmento representa apenas 8% do faturamento da indústria de saúde animal.
Caminho mais fácil
Na opinião de Fabiano Tito Rosa, gerente de vendas da Minerva, maior exportadora de carne bovina da América do Sul, a erradicação da vacina contra aftosa é o caminho “mais fácil” para abertura de novos mercados. “O caminho mais difícil é entrar em negociação e tentar fazer com que outros países adotem o nosso critério – que foi o que conseguimos com os EUA há um tempo atrás”, lembra Rosa. Em 2017, o Brasil conseguiu autorização para exportar carne bovina para o mercado norte-americano, mas perdeu em seguida devido a constatação de cargas com abcesso vacinal. A carne brasileira, até então, era a segunda exceção dos EUA a carne oriunda de países com vacinação além do Uruguai (que continua habilitado para exportar). “Se a gente for partir para a retirada da vacinação, a única coisa que eu posso dizer é que ela tem que ser gradual, extremamente bem controlada e com as mensurações necessárias”, afirma o gerente da Minerva ao ressaltar o controle precário da doença em países de fronteira seca com o Brasil, entre eles a Venezuela, que passa por uma profunda crise alimentar e sanitária. “A aftosa é um vírus, espalha no ar e animais silvestres também podem transmitir a doença. Então é um risco e tudo tem que ser avaliado”, conclui Rosa