Os fundamentos continuarão sustentando o mercado pecuário, diz diretora da Agrifatto.
“A pandemia de Covid-19 certamente será lembrada como uma das maiores crises da história, mas os fundamentos continuarão sustentando o mercado pecuário brasileiro”. Essa é a opinião da médica veterinária e pecuarista Lygia Pimentel, diretora executiva da consultoria Agrifatto, que assina um artigo extenso sobre os impactos do novo coronavírus na economia mundial.
Antes de falar sobre os rumos do mercado pecuário brasileiro, assunto de maior interesse de todos os leitores da DBO, Lygia destacou, com detalhes, as turbulências ocasionadas pelo avanço da Covid-19 nas principais potências mundiais. Chama a atenção as citações que ela faz do colapso na economia dos Estados Unidos, o atual epicentro da pandemia. “Apesar do pacote de estímulos do governo da ordem de US$ 2,2 trilhões, o desemprego saltou de 3,5% em fevereiro para 4,4% em março, a maior disparada desde março de 2009”, diz a analista, que destaca especialmente a decisão desta semana do Walt Disney World Resort, que, devido ao fechamento de seus parques temáticos, divulgou a suspensão temporária de 43 mil trabalhadores.
Sobre o mercado pecuário no Brasil, Lygia afirma que haverá uma “ressaca forte” para curar no período pós-Covid-19, “afinal, ninguém passa incólume a algo dessa magnitude”.
No entanto, ressalta a analista, isso não significa que os fundamentos devam ser esquecidos. “Você ainda se lembra de como estava o mercado antes desse furacão chegar?, indaga Lygia, referindo-se ao quadro de forte demanda chinesa pelo carne bovina, depois que “a peste suína africana (PSA) quebrou pela metade o estoque chinês de proteínas animais, um mercado de 1,4 bilhão de habitantes e que viu seu PIB crescer 6,1% em 2019”. “É importante lembrar que a PSA simplesmente liquidou 40 milhões de toneladas de proteína animal do estoque global”, observa.
Considerando os próximos três meses, avalia Lygia, é importante destacar que o retorno da China (ao mercado de importação de carne bovina) e do consumidor interno (às prateleiras dos supermercados e aos açougues) deverão ocorrer em consonância com a redução da oferta de gado, ao redor de julho. Por isso, prevê a diretora da Agriffato, “o alinhamento de astros ainda permanece ao fundo ditando a temperatura do mercado, até mesmo neste momento sombrio e cheio de incertezas”.