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Economistas alertam para o perigo de mudanças bruscas na indústria de carne dos EUA.

"É perigoso pular do penhasco sem estudar o que está do outro lado", alertam os especialistas em economia agrícolas da Universidade de Kansas.
Por: 
Portal DBO
10/05/2020

Tempos tumultuosos no setor de processamento de carnes dos EUA, vinculados à nova pandemia de coronavírus, provocaram pedidos de mudanças na estrutura do setor, mas dois economistas agrícolas da Universidade Estadual do Kansas estão alertando contra as reações exageradas a uma estrutura que já está sendo construída há anos, relata reportagem do portal norte-americano Feedstuffs.

Centenas de casos de Covid-19 foram confirmados em algumas das maiores fábricas de processamento de carne dos EUA, causando interrupções na cadeia de suprimentos, pois as empresas lidam com trabalhadores ausentes e fecham temporariamente os abatedouros, criando uma perda de capacidade de 40% no setor.

O fechamento dos frigoríficos deixou os pecuaristas norte-americanos com uma reserva de animais prontos para serem comercializados, o que significa custos mais altos de alimentação e animais potencialmente mais pesados. Do outro lado da cadeia de suprimentos, as interrupções significam disponibilidade irregular de carne no varejo norte-americano, prejudicando seriamente os consumidores.

A situação levou o presidente Donald Trump a considerar os frigoríficos como “infraestrutura crítica” que deve permanecer aberta, relembra o portal Feedsftuffs.

 

A pandemia e seus efeitos sobre todos os setores da cadeia de suprimentos de carne, além dos consumidores, provocaram pedidos de mudanças na estrutura da indústria de produção dos frigoríficos, que está amplamente concentrada em quatro empresas: Smithfield Foods, Tyson Foods, JBS e Cargill Meat Solutions. Esses quatro controlam cerca de 80% da capacidade de abate de carne nos EUA, informa a reportagem.

Embora alguns acreditem que haja maior transparência nos negócios negociados, o meio de uma crise não é o momento de fazer mudanças radicais e de longo prazo, disse ao site Feedstuffs o professor de economia agrícola Ted Schroeder, da Universidade Estadual do Kansas.

Ele sugeriu que, em vez de promover mudanças bruscas no setor industrial, é melhor explorar como o sistema atual pode ser aprimorado para funcionar de maneira mais eficiente.

“Sempre há espaço para melhorias, mas acho que é perigoso pular do penhasco sem estudar o que está do outro lado”, reforçou o professor e especialista em marketing de gado da Universidade do Kansas, Glynn Tonsor.

Segundo ele, quaisquer mudanças significativas, sejam elas relacionadas à pandemia ou não, devem ser feitas com vistas aos benefícios ao produtor de gado, ao processador de carne, ao varejista e ao consumidor. “Exageros no meio de uma crise poderão causar danos indevidos no futuro”, alertou Tonsor.

De acordo com Tonsor, em 4 de maio, a capacidade de processamento de carne da indústria dos EUA era cerca de 40% menor do que na mesma semana do ano passado. “Espero que esse patamar seja o pico de baixa, mas não há garantia”, afirmou ele. Diferentemente dos grãos, que podem ser armazenados a longo prazo, a carne é uma mercadoria perecível, o que complica a tomada de decisões em situações como essa (de pandemia da Covid), quando existem grandes interrupções no fluxo da cadeia de suprimentos.

A situação, disse Tonsor, reacendeu as conversas sobre a concentração dos frigoríficos, mas alertou contra grandes mudanças em meio à atual crise. “Em geral, quando você faz um procedimento cirúrgico, o médico aconselha repouso em casa pelas próximas semanas, mas não diz para você parar de se exercitar pelo resto da vida”, comparou.

 

A concentração atual na produção de carnes ocorreu devido a economias de escala, explicou Tonsor, que permitem que essas empresas produzam volumes mais altos a custos mais baixos por animal do que uma empresa menor poderia fazer. Essa eficiência, disse ele, significa preços mais baixos para os consumidores.

“Além disso, o valor das exportações de carne dos EUA aumentou notavelmente nas últimas duas décadas”, afirmou. “A indústria da carne bovina está se tornando cada vez mais dependente do mercado de exportação para sustentar o seu tamanho atual”, acrescentou. 

Com isso em mente, Tonsor disse que é mais fácil para um comprador estrangeiro negociar com uma empresa do que com 30 empresas. “Uma reação exagerada à nossa estrutura atual pode significar uma perda de competitividade global”, alertou.

Schroeder lembrou que o processamento de carne é um segmento da indústria que exige muita mão-de-obra e precisa de um número significativo de pessoas altamente qualificadas. Segundo Tonsor, a pandemia pode levar os frigoríficos a automatizar mais partes do processo de produção, em vez de depender tanto do trabalho humano

Fonte: Feedstuffs (editado e adaptado por Dênis Cardoso)